Fiagros atingem R$ 7,5 bilhões emitidos e abrem portas do mercado internacional para agronegócio

O Brasil ocupa uma posição relevante no agronegócio, sendo conhecido como “celeiro do mundo”. Apesar disso, pouco se fala sobre investimentos neste mercado. Para mudar este cenário, o governo federal criou no ano passado os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros).
A iniciativa foi resultado do trabalho conjunto do Ministério da Economia, por meio da Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Congresso Nacional, materializado na Lei nº 14.130/2021 e na subsequente regulação pela resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nº 39 de 2021.

Divididos em três modalidades, de acordo com os ativos que os compõem – Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fiagro-FIDC), Fundo de Investimento Imobiliário (Fiagro-FII) e Fundo de Investimento em Participações (Fiagro-FIP) –, os fundos totalizavam 31 até 26 de novembro de 2021. Lastreado em imóveis rurais, Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), o Fiagro-FII tem prevalecido
até agora.

Do total de fundos registrados na CVM até novembro, 24 deles são dessa categoria e sete são Fiagro-FIDC, lastreados em recebíveis do agronegócio. Os valores de emissão totalizam aproximadamente R$ 7,5 bilhões, dos quais R$ 6 bilhões se referem a Fiagro-FII.
Na prática, os Fiagros possibilitam a criação de fundos de investimento para a aplicação em ativos da cadeia de negócios, sejam eles de natureza imobiliária rural ou de atividades relacionadas à produção do setor. É bastante abrangente e permite investimentos em direitos creditórios, imóveis, valores mobiliários, ações ou cotas de sociedades.

Eles abrem oportunidade para que pequenos investidores possam participar de um dos setores que mais crescem na economia brasileira. Além disso, ao proporcionarem mais segurança jurídica a esse mercado, ajudam a atrair a participação de investidores estrangeiros no financiamento do agronegócio no Brasil.
Os Fiagros também aceleram a desintermediação dos bancos, que normalmente exigem taxas maiores para aplicar o dinheiro. Assim, a negociação se trata diretamente entre o produtor rural e as casas de investimentos.

Para o gerente financeiro da COPLACANA, Fábio Carini, a principal vantagem dos Fiagros é o produtor rural poder utilizar todos os insumos da cadeia agro, desde a safra propriamente dita, até prédios rurais, caminhões, etc, como lastro, que é o que garante a liquidez do fundo.

“O produtor pode usar todos os insumos da cadeia para participar do fundo, colocando os imóveis dele como lastro, os recebíveis. Ele consegue usar todos os instrumentos da cadeia para poder participar do fundo e tomar o recurso. Já as empresas conseguem participar colocando as próprias ações no lastro”.

Segundo Douglas Duek, economista especialista em agronegócio e CEO da Quist Investimentos, o produtor rural que queira fomentar a sua operação e precisa de dinheiro, deve procurar casas de investimentos especializadas e apresentar o seu projeto. A empresa gestora vai analisar a proposta e a propriedade e, em média, 60 dias, deve dar uma resposta para começar a negociação.

Douglas conta que os Fiagros vêm para facilitar o mercado e dar acesso aberto a um investidor comum. “Antes, o investidor era quem tinha condições de desembolsar R$ 100 milhões, por exemplo, hoje está aberto para quem quiser investir valores pequenos. O foco é abrir para que qualquer pessoa invista no mercado do agronegócio”.

Fiagros englobam todas as áreas do agronegócio brasileiro. No entanto, de acordo com o especialista, a pessoa interessada em se tornar uma investidora deve, primeiro, fazer o prospecto do seu investimento, porque depois isso é regulamentado. “Por exemplo, eu coloquei que eu quero investir em A, B e C, então eu não posso investir em D. Não posso investir em floresta, se eu não coloquei floresta, e coloquei soja, milho, gado etc”.

Diante da oportunidade que os Fiagros proporcionam ao abrir as portas do mercado internacional para o Brasil, Carini afirma que a COPLACANA vê com bons olhos essa modalidade nova de captação.

“A gente enxerga com bons olhos, não só para COPLACANA, mas para toda cadeia agroindustrial, pequeno, médio e grande produtor rural para poder tomar recursos diferente do que é tradicional. A gente está numa escalada de escassez de recurso obrigatório, a gente tem uma escalada de alta de taxas também, talvez seja a viabilidade para poder captar recursos num prazo mais alongado”, explicou.

O gerente financeiro finaliza com uma novidade da cooperativa. “A gente está estudando possibilidades, temos diversos cenários aqui e os Fiagros fazem parte dessas possibilidades que estamos estudando. Não é uma carta fora do baralho. A gente enxerga com bons olhos a possibilidade de estruturar uma operação”.